17 de abril de 2015

ANÁLISE: DEMOLIDOR



Desde 2008 a Marvel vem contando suas histórias no cinema (e conhecemos muito bem no que deu) e em 2013 expandiu as suas ideias para as séries de TV começando com Agents of SHIELD que não teve um bom inicio, afinal, era uma nova forma de trabalho e não tinham o mesmo investimento de um blockbuster, mas com o tempo melhoraram a qualidade de suas produções para a TV, que o diga a mais recente, Agent Carter. Já a Netflix vem apostando em uma nova forma de distribuição, todos os episódios de uma só vez e contatos com se fossem um grande filme de doze horas. Em uma produção de alta qualidade e com as características de cada uma delas, o universo cinematográfico de heróis Marvel e a forma de contar as histórias já padrão da Netflix e com distribuição da mesma, chega a nós a série do Demolidor.

A série conta a história de Matthew Murdock (Charlie Cox), um advogado que quando criança sofreu um acidente químico que o deixou cego. Ainda jovem, Matt, não sabia como lidar com seu novo estado por que havia algo a mais, sentia as coisas, ouvia melhor e não sabia o que estava acontecendo, perder a visão só deixou mais aguçado os seus sentidos. Então conhece um velho (misterioso a principio) que o ensina e treina para usar esse “dom” a seu favor, ensinando-o também a lutar, se defender sozinho e lidar com a nova maneira de “enxergar” o mundo. O tempo passa e Matthew vai para a faculdade onde conhece seu melhor amigo e quase irmão, Foggy Nelson (Elden Henson), os dois se formam em direito e fundam um escritório de advocacia em Hell’s Kitchen (Cozinha do Inferno), em Nova York, onde os dois cresceram. De dia Matt exerce a função de defensor da lei junto com seu amigo e a noite, ele se torna a lei das ruas e sai pela cidade para combater a máfia russa, japonesa, chinesa e qualquer outro que queira levar o caos a sua cidade; pra isso ele se torna um Homem Sem Medo, ou o Demolidor.

Demolidor
O desenrolar da história é focado no protagonista, porém o trabalho para desenvolver o vilão é quase que equivalente, de maneira que em certos momentos você chega a sentir pena do antagonista Wilson Fisk, interpretado de forma magnifica por Vincent D’Onofrio que conseguiu entender o personagem e passar isso para quem assiste. Um homem perturbado pelo passado, frio, violento quando necessário e atrapalhado na hora de “cantar” uma mulher, ou seja, é um personagem complexo e difícil de ser trabalhado, mas isso não é problema para Vincent. Chalie Cox faz uma excelente atuação no papel de Matthew Murdock, que em alguns momentos chega até ser parecido com seu antagonista, violento, frio, confuso sobre certo e errado, mas determinado a fazer o que for preciso para salvar sua cidade, discurso esse também usado para justificar as ações de Fisk, tanto que ambos usam de uma mesma frase na série: “Eu só quero fazer da minha cidade um lugar melhor.”.

Drew Goddard é o criador da série, que é contida e não traz nada de inovador ou surpreendente, mas é muito bem escrita, simples e direta, salvo o episodio sete intitulado de Stick, que não desenvolve a trama principal, conta um pequeno pedaço da história do protagonista e ainda introduz um personagem sem muitas explicações e no final ele some do mesmo jeito que aparece, o que compensa são as cenas de luta que estão de encher os olhos de qualquer amante de filmes de ação, não só neste episodio, mas na série toda são todas espetaculares e quem lembra o final do segundo episodio sabe do que estou falando, uma luta gravada em plano sequencia em um corredor mal iluminado, deixando claro o tom da série.


Mas os coadjuvantes também são bons, Elden Henson como Foggy e Deborah Ann Woll como Karen Page se deram bem nos papeis. São engraçados quando é preciso e sabem ser sérios em certos momentos. A amizade de Matt e Foggy é estabelecida de uma maneira sutil, mas que convence logo no inicio, pois ambos são muito carismáticos. Já Karen (Deborah) não convence de inicio, até por que as coisas acontecem meio que depressa demais com ela, num momento é presa e corre risco de vida e em outro instante trabalha como secretaria na Nelson e Murdock Advogados e os ajuda a resolver outros casos, fora a insistência em desmascarar as pessoas que lhe fizeram mal no começo, que se arrasta até o fim da série. Apesar dela não ser muito bem trabalhada, ainda é uma boa personagem e se torna essencial no decorrer do seriado.

A direção é magnifica, por se tratar de uma série eles estão de parabéns. A maioria das cenas foram filmadas em lugares escuros, mal iluminados ou de noite na cidade e como o uniforme do Demolidor é completamente preto fica difícil de identifica-lo, a única parte exposta do herói é o queixo, dando a sensação de que ele é um espirito que aparece das sombras, “como um demônio”. Os ângulos de câmera são ousados, em diversos momentos eles brincam com sua percepção de espaço, por exemplo, um galpão escuro com uma luz no centro se torna um lugar pequeno e “claustrofóbico”, dando mais intensidade nas lutas. As cenas de luta corpo a corpo foram gravadas de perto, algumas até acompanham os golpes e como o Demolidor dá muitos mortais e piruetas, acaba tornando mais dinâmicas e agressivas essas batalhas; sem falar dos planos sequencias que não são frequentes, mas quando acontecem é de se impressionar com o cuidado que tiveram em fazer takes longos que fizessem sentido (como dito antes, a cena final do segundo episódio é simplesmente fenomenal). O Demolidor bate muito, mas apanha muito também, ele não é um super soldado, então é normal que ele canse no meio das lutas, pare para respirar e tomar o folego novamente, isso é ótimo. Quando disseram que ia ser mais realista eles não estavam de brincadeira.

Demolidor na HQ de Frank Miller / Demolidor da Netlfix

Demolidor é de longe a melhor série de super-herói do momento, não que as outras seja ruim, mas essa conseguiu passar, para quem assiste, o conceito do herói, retratar em outra mídia o que é a sua essência vinda dos quadrinhos, com forte influência de Frank Miller. Com uma produção muito bem elaborada, preocupada nos detalhes, mostrando que a Cozinha do Inferno não é um lugar tranquilo e dando um “ar” sombrio ao personagem. O roteiro é simples e bem desenvolvido, tem alguns deslizes, mas nada que comprometa a sua experiência. Um protagonista carismático e sério também, com um elenco competente, Demolidor é uma série divisora de águas, esperamos que as próximas dessa parceria entre Marvel e Netflix sejam tão boas quanto.


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